Cinzas
Na próxima quarta-feira a Igreja estará iniciando sua caminhada para a páscoa, festa da nossa redenção. Quarta-feira de cinzas! Para muitos, quarta-feira de amargas cinzas depois de um carnaval de efêmeras ilusões. Para todos um tempo de meditação e de conversão no encontro com o Senhor. No intento de evitar doenças sexualmente transmissíveis e a gravidez indesejada entram em cena as “camisinhas”. Como a “festa” tem como um dos principais ingredientes o álcool, é provável que muitos acabem por se esquecer das “camisinhas’ e, consequentemente, além das crianças que virão a nascer da permissividade – se a violência do aborto o permitir -, ter-se-á aumentado o número dos infectados. A propaganda dos últimos anos inoculou na mente de muitos a ideia de que tudo é permitido desde que se evite a concepção e a contaminação pelo HIV. Não é isto o que se pretende ensinar em nossas escolas com a recomendação do uso de camisinhas?
A nossa fé nos ensina que Jesus tomou resolutamente o caminho de Jerusalém, onde deveria realizar sua passagem para o Pai, abrindo para nós o caminho da reconciliação e da paz. Na Cruz ofereceu sua vida para nos libertar do vírus do pecado e introduzir-nos no mistério de sua comunhão com o Pai. Tomou sobre si nossas enfermidades e nossas iniquidades e, em ato de extremado amor, revestido de nossa miséria, em comunhão com o núcleo mais profundo de nosso ser, entregou-se ao Pai, abrindo para nós a porta da Vida. Ressuscitado, oferece-nos o Espírito de amor pelo qual somos regenerados e fortalecidos para vivermos como homens novos, na justiça e na santidade. Se o vírus do pecado nos conduz à morte, a força do Espírito nos conduz à plenitude da Vida. Pela sua força podemos superar em nós a fraqueza da carne – no sentido paulino – e viver a vida nova na alegria do estar com o Senhor. Quaresma é tempo de pensar nas verdades fundamentais de nossa existência, à luz da fé. Todos queremos um mundo novo, com mais dignidade e paz, sem exclusões e sem violência: como nos pede a CF 2019: Serás libertado pelo direito e pela justiça” Is 1,27.
É preciso começar lá onde por primeiro temos o poder de mudar, com a graça de Deus. Começar lá, na raiz do próprio coração. O documento de Aparecida insiste no “encontro com Jesus Cristo vivo, caminho para a conversão, a comunhão e a solidariedade”dando continuidade à pregação do Papa João Paulo II. Interessante observar que o encontro com Jesus Cristo é iniciativa d´Ele. Ele vem ao nosso encontro. Assenta-se à beira do poço que cavamos na tentativa de encontrar a água que mata a nossa sede. Ele nos dirige a palavra, interpela-nos, toca a nossa ferida existencial como o fez com a samaritana, com ternura e respeito. Ele se revela a nós se lhe damos atenção, se, pelo menos, aceitamos dialogar com Ele. Naturalmente isto só é possível se, descontentes com as soluções arranjadas, estamos abertos para outras possibilidades. O encontro com Ele provoca uma profunda reviravolta em nossa vida: a nossa conversão. Começamos uma vida nova onde sempre de novo, a cada novo encontro, descobrimos na riqueza de seu mistério que temos muito que caminhar.
A conversão, o crescimento em Cristo, é um processo jamais encerrado. Por isso, a cada ano, na quaresma, somos convidados a repensar nossa vida e, à luz do mistério da paixão, morte e ressurreição do Senhor, envidar novos esforços no sentido de conformar nossa vida à vida de Jesus. Um mundo sem violência, onde todos sejam incluídos, exige que você, meu irmão, minha irmã, não se exclua de Jesus Cristo ou não exclua Jesus Cristo de sua vida. “Convertei-vos e crede no Evangelho” é o apelo do Senhor a você, irmão(ã) nesta quaresma.
Dom Eduardo