Pai: Leandro Cervato
Mãe: Constantina Chiesa Cervato
Data de nascimento: 1/10/1922
Data de falecimento: 24/11/2003
Naturalidade: Olímpia (SP)
Biografia
O caminho de que Nosso Senhor se serviu, para chamar Ir. Diva, a Vida Religiosa, foi o Irmão Flumêncio – Marista – o mesmo que um dia esteve lá em casa de meus pais, alguns anos antes, me transmitindo o “Vem e Segue-me” de Nosso Senhor: – “O que é que esta menina está fazendo aqui? Porque não vai em seguimento à sua madrinha Ir. Teresa do Sagrado Coração – Religiosa Calvariana, que eu conheci, em Campinas?” Foi o sinal que me faltava. No dia 2 de Fevereiro seguinte, lá estava eu, no Colégio Coração de Jesus, preparando-me para o exame de admissão do ginásio. Acabei ficando para sempre! Com Irmã Diva, a historinha foi diferente:, Ela havia terminado o curso primário e, no momento, era professora na Escolinha da fazenda de seu pai. Frei Flumêncio foi visitar a Escola e perguntou aos alunos, como ele costumava fazer, imitando seu fundador: Marcelino Champanha: – Por acaso não há aqui algum garoto querendo ser Irmão Marista? Ou menina que queira ser religiosa? A criançada não respondeu.
A professora, assim: – Irmão, as crianças não querem, mas a professora quer! Irmão Flumêncio levou seu pedido às Irmãs Calvarianas que entraram em contato com ela e no ano seguinte, uma moça bonita, 17 anos estava batendo às portas do Colégio de Jesus, em companhia de seu pai, Sr. Leandro. Fui encarregada de recebê-los. E com alegre carinho o fez!… Sr. Leandro, moço ainda, muito simpático, partiu emocionado, deixando sua filha primogênita no Coração de Jesus, sabendo que ela estava em “boas mãos”! Irmã Diva!… sempre alegre! Sempre muito trabalhadeira! Sempre pronta para um passeio! sempre feliz com suas transferências! Sempre feliz ao preparar piquenique para as Irmãs! Sempre organizando cada ano uma bela festa junina, homenageando os Santos festeiros!
Que saudades, Irmã Diva! Que saudades!… 28 de Junho! A gente já sabia: – O pátio do Colegião enfeitado de bandeirinhas, fogueiras, fogos de artifício, o mastro preparado com o retrato de São Pedro, São João e Santo Antônio. Rajávamos o terço, beijávamos os Santos, passando por baixo do mastro que afinal era levantado enquanto subiam os rojões e a gente cantava “Roma Eterna”, dos mártires e dos santos… Rajávamos as orações de cada Santo às quais ela acrescentava a oração a São Bento, suplicando sua proteção contra os “bichos maus e peçonhentos”. Depois… o lanche-jantar no refeitório: pamonhas, pipocas, curau, bolo de milho, sanduíches e, no final, uma enorme barra de chocolate que ela oferecia a cada uma das Irmãs! Era assim a Ir. Diva… Mas antes disso, por onde ela andou? Adorava ser transferida! Ao receber das Superioras a indicação de seu próximo local de “servia a Deus”, ela batia o sininho e saía, anunciando a “boa-nova”, na maior alegria.
Por isso, morou em quase todas comunidades Calvarianas, cuidando das rouparias, dos trabalhos domésticos, das capelas, das cantinas… Quando do nosso processo de desmembramento do Calvário, ela cumpria sua missão de consagrada, no Rio Grande do Sul. Ir. Teresa, sua irmã caçula, morava em Catanduva. Escreveu-lhe, contando-lhe em que ponto estávamos do processo! Era momento em que as Irmãs que desejassem partir conosco para a “Ressurreição”, poderiam fazê-lo. Ir. Teresa convidou-a para vir conosco. Rápida como era para decidir e para partir, Ir. Diva, em companhia de Ir. Umbelina que também trabalhava no Rio Grande do Sul, foi das primeiras a vir ter se juntar a nós. Foi com o coração palpitando de alegria, que vi as duas surgirem lá no portão do pátio. Com que emoção as abracei!
Com que fervorosa ação de graças, disse meu agradecimento a elas e a Nosso Senhor! Juntas, nos preparamos para renovação de nossa consagração Religiosa, na “Ressurreição” que aconteceu no dia 29 de junho, festa de São Pedro, de 1971. Trabalhadeira, generosa, sempre pronta para o que der e vir, pôs-se logo ao trabalho. Cuidava do quintal, da horta, dos animais. Era comum vê-la, dentro de seus vestido velho – As crianças, quando queriam identificá-la, diziam: “aquela irmã de vestido desbotado” – empurrando uma carriola, cheia de ração para as vacas, para as galinhas, para os porcos. Assumir a cantina, reformada pelo Ir. Raquel. Nada de vender fiado para os grandes. Mas os “pequeninos” mantinham conta aberta. Neles, com quem se entendia muitíssimo bem, ela confiava… Mais tarde, quando Ir. Zélia veio para o Rio de Janeiro com a Irmã Zilah e Ir. Letícia, Ir. Diva assumiu a capela, cuidando, com zelo extremo, das alfaias, dos paramentos, dos altares, da preparação para os ofícios sagrados. No final do ano letivo, seu mês inteiro de férias, era uma pausa de que ela, queria sempre usufruir: do 1º de Janeiro a 1º de Fevereiro. Viajava… ia visitar sua família em Olímpia, suas tias em Jundiaí, as Irmãs da comunidade de base, em Campinas, alguns dias na Praia Grande, em Santos.
Caminhava pela areia, enfrentava ondas, boiava no mar calmo da tarde, sempre alegre, sempre feliz! Uma vez por ano, preparava um piquenique para todas nós, na fazenda da Elide, na irmã. Era uma fartura! Sorvetes, guloseimas, bombons, e o almoço farto e gostoso preparado pela Elide e Ir. Teresa. As meninas andavam de charrete e galopavam a cavalo pela fazenda. Uma delícia! A tarde, voltávamos felizes, agradecendo a Deus, a ela, a Elide e a seu esposo Hermenegildo, bom como ele só! – ao Elói, seu irmão, à Maria Helena, sua sobrinha e… à Ir. Diva, que nos proporcionou aquele dia feliz! Os dias iam passando, passavam os meses, mais um ano e outro ano. Ir. Diva começou a se causar. Passos mais lentos, menos exuberância, momentos de esquecimento… O que estaria acontecendo? – Ir. Diva, eu queria que fosse ver um médico especialista em Campinas. Você vai? – Vou, sim, Madre! Mas só se a senhora for comigo. – Claro, filha, faço questão de acompanhá-la. Fomos. Alguém nos indicou um médico, atencioso e competente. Examinou-a com cuidado e concluiu: – Ela está com o mal de Ashaimer, a gente detecta o mal, mas não existe remédio para combatê-lo. Voltamos tristes e apreensivas… Ela estava piorando. Voltamos a Campinas.
Desta vez procuramos o hospital da Unicamp. Exames mais demorados registraram hidro-encefalite. Só que o crânio já estava bem prejudicado. Uma cirurgia melhorou seu estado. Mas muito pouco. O mal foi se agravando. E a Ir. Diva, trabalhadeira, generosa e alegre ficou prisioneira de uma cadeira de rodas. Dona Lurdes, depois Mrluce, Eliana e as Irmãs a cercaram de cuidados e muito carinho. Como Ir. Raquel, como Ir. Teresa, sua irmã, como Ir. Zilah, nem uma queixa, nem uma impaciência…, gente santa, aceitando com imenso amor a vontade do Pai. Louvado seja Deus! Várias vezes, o pronto socorro veio buscá-la para levar ao hospital. Passava lá alguns dias, melhorava, e voltava para casa. Com a graça de Deus, não a internaram na U.T.I.! Embora Ir. Diva não falasse, sempre reconhecia as pessoas. Era gratificante ver seu rosto iluminado, cheio de vida, ao receber seus familiares… Ela parecia ressuscitar com a mesma alegria acolhia também a nós, quando a visitávamos. Quando estive em Catanduva, em julho de 2003, fui despedir-me dela. Tive a certeza interior de que a estava abraçando pela derradeira vez! Rezei por uns instantes, junto dela, abracei-a. Era um abraço de despedida! Lágrimas me subiram aos olhos, o coração chorou baixinho… não pude voltar a Catanduva, por ocasião de sua morte, no dia 24 de Novembro de 2003. Marluce lhe fazia companhia à noite. Percebendo que ela respirava com dificuldade, foi socorrê-la. Ela sorriu para Marluce… e cerrou os olhos, para sempre! Foi abri-los diante do Papai do céu! A quem ela tanto amou, a quem consagrou sua vida! Foi receber a recompensa prometida por Jesus a quem “guardou sua palavra”, a quem o seguiu por tantos anos. “Aqueles que deixaram tudo por amor do Reino de Deus, disse Jesus, respondendo a Pedro: terão o céntuplo neste mundo e no outro, a Vida Eterna. O céntuplo e, muito mais ela já receberá.
Foi agora receber o céntuplo no céu, onde os olhos não viram os ouvidos não ouviram, nem o coração sonhou aquilo que Deus – Pai preparou para aqueles que amam. Ir. Diva, seja feliz no céu, muito mais do que foi aqui, na sua comunidade! Você que se entendia tão bem com as crianças, por se parecer um pouco com elas, está agora se divertindo com os anjos na casa do Pai, com certeza! Até que chegue também a nossa vez, reze conosco, fique conosco, ajude-nos a fazer a vontade do Pai. Assim seja!